Por Tea Frigerio
Isaias, João
Batista, Maria iluminaram esta primeira semana do Advento, tempo de espera da
vinda do Senhor. Deus se encarna, se faz humano porque quer nos encontrar. Deus
nos surpreende com sua visita. Aproxima-se, anuncia, orienta, sopra em nossos
ouvidos...
Vivemos o
Advento no fim de ano, tempo cheio, agitado, um corre, corre de atividades para
concluir, compras para fazer, organizar-se para as festas, natal, fim de ano...
O Advento nos lança um desafio: seremos capazes de reservar tempos para o
essencial? Um tempo místico para refletir e ir às raízes de nossa existência? Se
não aceitarmos este desafio corremos o perigo de perder o controle da nossa
vida, da nossa realidade mais profunda no anseio sôfrego da preparação das
festividades e, ao final não perceber sua vinda, sua presença.
Reunir-nos em
comunidade, em família, ousar nos dar um tempo de silencio pessoal, tranquilo,
sereno, e poder refletir e sentir mais intensamente que é tempo de Deus,
momento vivido entre nós, momento divino, retalho de tempo em que
experimentamos a união profunda do divino com o humano.
As primeiras
comunidades cristãs, as personagens bíblicas, as leituras, nos indicam o
caminho para reconhecer os sinais que Deus deixou na história.
Sinais que frequentemente
são somente sussurros na multiplicidade altissonante dos sons e das palavras
que invadem nossa vida. Sinais que são sonhos, presença fugaz, que nem bruma,
no assalto constante dos sonhos coloridos e fascinantes do consumismo. Sinais dos
anjos e anjas silenciosas e leves, sem estardalhaço nos falam no cotidiano da
vida.
Foi assim para
Isaías que entreviu o Deus-conosco, nos pequenos, nas crianças, que se tornaram
sinais de esperança e luzes acesas na escuridão, criada pela violência da
lógica da guerra, das armas (Is 9,1-6).
Foi assim para
João Batista, marcado desde o ventre materno da presença de anjos e anjas,
mensageiras, canais de comunicação que religam o céu a terra. Precursor nascido
na contra maré, viveu na contra maré, desafiando os grandes e afirmando: não
sou eu... voz que prepara os caminhos daquele que há de vir... (João
1,19-30).
Sonhos e
sopros, anjos e anjas chegam até Maria e José, os pastores, os estrangeiros
sábios. Sonhos e sopros, anjos e anjas que desafiam o comodismo e exigem
coragem para vislumbrar e pisar em caminhos novos, na certeza que caminhando se
abrem caminhos (Mt 1 e 2).
Sinais de
anjos, sonho, sopros que se por um lado pedem obediência a Deus, em contraparte
pedem a desobediência à lógica social e religiosa da época.
Sinais, anjas,
sonhos, sopros que interrogam: no barulho da nossa vida sabemos fazer silêncio
para escutar o sopro de Deus nas anjas, anjos, que nos visitam? Sabemos
reconhecer e acolher o sonho que Deus soprou no nosso sonho e no nosso coração?
Com coragem o cultivamos no nosso cotidiano, na certeza que estamos fazendo
história?
Isaías, João
Batista, Maria souberam desobedecer as leis, as regras, as normas, aos costumes
para obedecer a vida, escutar intensamente e obedecer a voz de Deus presente na
sua história. Elas tiveram a coragem de enfrentar a vida e viver o sussurro da
anja, o sonho de Deus e fizeram história. E nós?
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