segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Mês da Bíblia 2014

Texto: Celina Pereira 


A partir do Evangelho de Mateus, com o Tema: “Vão e façam às nações minhas discípulas”- Missão de Jesus –Missão das Comunidades. Iniciamos a formação para o mês da Bíblia, no Centro Social de Nazaré (Basílica), neste mês de agosto. Estiveram presentes neste curso sessenta e sete pessoas contando com a equipe do CEBI-PARÁ responsável por facilitar o estudo.

Foram quatro noites de descobertas da Nova Lei, ou seja, da nova maneira de construção do Reino de Deus, partindo dos conflitos vividos pelos cristãos da época, desde 60dC até mais ou menos 85dC quando Mateus vai escrever o Evangelho de Mateus para avivar na memória deles o Projeto de Jesus, a nova maneira de viver a Lei, desde sua Genealogia, que só em Mateus vão aparecer as cinco mulheres, que subvertem completamente os padrões do que era definido como aceitável pela Lei antiga. Jesus que fala através de parábolas para ser entendido claramente, usando métodos simples. Que nos diziam que devemos Celebrar a Páscoa da libertação através da Partilha, da solidariedade com os mais necessitados, com os que estão à margem do caminho, pois é para isso que somos enviados “Vão e façam com que todas as nações sejam minhas discípulas”. Estarei sempre com vocês até os confins da Terra.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ASSEMBLEIA ESTADUAL 2014

Texto: Celina Pereira
Fotos: Dilma Leão

De 19 a 21 de junho de 2014, aconteceu na sede da CNBB –N2 em BELÉM-PA, a Assembleia do CEBI- PARÁ. Estiveram presentes 22 pessoas, representado as áreas (interior) e núcleos (Região Metropolitana).  Com o tema indicado pelo CEBI-Nacional: “Dá-me de beber” – Nossas sedes –Nossas águas á partir do texto de João 4.
A Celebração de abertura com o Tema O Poço como Herança- Das Matriarcas ao CEBI foi uma motivação para entrarmos nas nossas águas e descobrirmos nossas sedes, em silêncio ouvimos a música de Iva Rhote chamada “Água”.



A seguir, refizemos o caminho das matriarcas para encontrarmos nossas origens, em grupos refletimos os textos: Gn 16,6-16; Gn 21,14-21; Gn 24,10-27; Gn 29,1-20; Ex 2,16-22; Nm 20,1-2+21,16-18, (Agar, Rebeca, Séfora, Míriam). Nos interrogamos: Essas mulheres ao caminhar ao poço tinham uma sede. Qual era a sua sede? E qual o nome do poço? Muitos foram os nomes dos poços ( da fortuna, da saudade,...)

Caminhando ao redor do poço, a cada estrofe do canto: “Eu vim de longe..” uma área ou núcleo se apresentava e derramava no poço sua água, expressando sua sede e  dizendo o nome do poço. Esse momento foi concluído com uma dança para criando uma ciranda de parceria, cumplicidade busca e utopia.


O Estudo do Capítulo 4 do Evangelho de João “Dá de beber” com o lema “Nossas sedes e nossas águas”, sugeridos pela Direção Nacional iniciou com as reflexões pessoais:
ÀGUA = SEDE = MATRIARCAS = ISREAL; a saber:
1-Qual o sentido da água para mim.
2-Qual a sede que carrego dentro de mim.
O CEBI poderá saciar nossas sedes? 

No encontro e no diálogo há um dar e acolher. Como este momento sacia a sede:

1-  Quais são as “samaritanas”, as águas, os poços alheios a nós, nas áreas sociais, culturais, religiosas, afetivo-sexuais, etc.com os quais nos deparamos em nossa realidade. Como.
2-   Como esses encontros nos fazem olhar e tomar consciência de nossas próprias águas, nossas sedes, nossos próprios poços.
3-  Como nos fazem refletir sobre nossas raízes culturais, nossa educação moral e afetivo-sexual.  
4-   Como esses encontros nos ajudam a purificar nossas águas e sirvam para que encontremos as águas vivas, as sagradas águas da vida, presentes tanto nas fontes mais profundas de nossas águas\poços como nas fontes das águas\poços que são diferentes das nossas. Na partilha dos grupos de reflexão e conclusão, foi muito forte questionado porque tinha que passar pela samaria e descobrimos que jesus tinha que fazer esse caminho, “Passar pela Samaria” – inclusão importante no texto, caminho que temos que trilhar e que às vezes não queremos. Emerge conflitos éticos, religioso, que divide, exclui. Jesus – teologia organizada, samaritana – teologia conflitante.  Na fala de Jesus refletimos “às vezes nossa teologia de vida não nos torna superiores?”. Lugar de se encontrar com Deus é na vida, pois é sagrada. Nossas águas, mais as águas das “samaritanas” faz brotar uma nova fonte. Jesus me faz conhecer quem eu sou (fonte de água).


Nessa assembleia foi eleita a nova coordenação do CEBI-PA 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Dá-me de beber! Nossas sedes e nossas águas João 4,1-42




Durante a Assembleia do CEBI Pará refletimos sobre o texto da Samaritana. Deixamos ecoar dentro de nós as palavras do canto “Bendito poço” e a seguir nos interrogamos: Quais minhas sedes? Que outras sedes tenho, temos? Quais minhas águas? De que outras águas necessitamos? Que águas temos a oferecer? Que trocas de águas podemos estabelecer?
A seguir coletivamente narramos o texto de João 4,1-42. E após a narração, retomando o texto identificamos as cenas que compõem a narração.                                                                                                                                                                                                                                                                                                         
vv. 1-6 contextualização – tinha que passar pela Samaria
vv. 7-15 sede – água – como é que tu, judeu, pedes de beber  a mim, que sou samaritana
vv. 16-18 maridos – não tenho marido
vv. 19-24 onde adorar a Deus – em espirito e verdade profeta
vv. 25-26 Messias que há de vir – Sou eu que falo contigo Messias – Sou eu
vv. 28-30 deixou o cântaro – vinde e vede um homem que me disse quem sou   Cristo
vv. 8.27.31-33 discípulos – Mestre, come... uma comida que vos não conheceis
vv. 34-38 parábola da colheita – envie a ceifar... onde outros trabalharem
vv. 39-42 samaritanos permanece conosco Salvador do mundo

Apresentamos algumas reflexões que nos ajudaram a aprofundar e a encaminhar as reflexões nos grupos.

A Samaritana e o desmoronamento do culto sacerdotal

A cultura e religião judaica separavam e diferenciava a esfera do sagrado do profano, o puro do impuro, criando um sistema religioso que definia as modalidades de relação entre os dois campos através de mediações.
O templo de Jerusalém, lugar da presença da divindade, lugar das oferendas, dos sacrifícios rituais, do estudo, das peregrinações e das orações, lugar do encontro entre Deus e o ser humano, lugar onde morava a Shekinah. Esta Casa de Deus, no seu interno definia fortemente os espaços que consentiam a proximidade ao sagrado em diversa intensidade: o Santo dos Santos separava o divino do resto do santuário.
Havia criado um sistema que separava fortemente os gentios dos israelitas, as mulheres dos homens, o povo dos sacerdotes, Deus de uma humanidade necessitada de perdão e reconciliação. A aproximação com o divino necessitava de uma mediação, papel desenvolvido pela classe sacerdotal.
O encontro de Jesus com a Samaritana provoca uma reflexão profunda sobre esta realidade.
A Samaritana como mulher não podia ser aproximada em publico por um rabi; era impura, pois era de uma etnia que misturou-se; era herética cismática, os samaritanos haviam construído um templo sobre o monte Garizim.
O dialogo a leva a reconhecer Jesus como judeu, maior que o nosso pai Jacó, Senhor que faz prodígios, profeta, Messias escatológico, enviado do Pai, Salvador do mundo.
Encontramos porem o centro do dialogo nos versos 4,19-24. Em continuidade com os profetas Jesus indica a superioridade do culto espiritual sobre ritual. A Ruah conduz à verdade, à participação da vida de Deus. O verdadeiro culto vem de Deus não do ser humano necessitado de purificação, por isso não precisa de mediação, nem do templo, nem do culto, nem do sacrifício, nem do sacerdote.
Não é mais o templo o centro da vida religiosa, mas o mundo. A Ruah está presente no universo, na vida, na nova realidade religiosa a mulher então readquire sua dignidade e ela mesma entra em relação direta com dadiva que é Deus, é templo do Espirito.
Não precisa mais do homem, sacerdote que tem pureza legal, que oferece sacrifícios para ter o perdão. Deus mesmo se oferece para que as pessoas santificadas e libertadas pelo seu amor comuniquem vida.
Os não judeus e judeus, as mulheres e os homens, os pobres e os que têm, os pecadores e os justos podem adorar a Deus em qualquer lugar, ninguém está excluído do seu amor.
A narração conclui-se com a Samaritana, entre o estupor dos discípulos que não compreendem, porque Jesus fala com uma mulher e por cima herética. A mulher compreendeu, corre à sua cidade anunciar e muitos acreditaram nele e na palavra da mulher. Abandonou o cântaro, bebeu e deu de beber, não precisa mais do cântaro, dela jorra água viva. Águas que se misturam águas que doam vida.

Aconteceu outra vez ao poço ...

Aconteceu outra vez ao poço que se diz de Jacó. A rotina cotidiana levava a mulher ao poço, atingir água. “Era preciso passar pela Samaria” (João 4,1-6). Não, não era preciso! O judeu que transitava preferia alongar o caminho, mas não passar pela Samaria. É preciso passar, pois tem uma dívida a pagar.
O encontro! Um homem, judeu, mestre, desconhecido. Uma mulher, samaritana, popular, sem nome. O encontro, um pedido, a surpresa, a porta está aberta, o diálogo instaurado.
Diálogo que abre portas fechadas, que derruba muros antigos, que rompe silêncios atávicos. “Como tu... pedes... a mim?”. O homem lhe fala pedindo, não ordenando. Uma fala mansa, humilde, que pede. Quanto é novo este falar! Não são berros, ordens, arrogância, ira, grosseria que marcam esta fala. É voz que pede. Pedido de água.
Água a ser dada, água a ser recebida. Água que mata a sede do cansaço, da longa caminhada. Água que mata outra sede, bem mais amarga, bem mais cansada, de bem mais longa caminhada. Sede de esperanças perdidas, de sonhos frustrados, de utopias vencidas. Sede nascida no anonimato, na violência, nos abusos. Sede de reconhecimento, gratidão, prazer, companheirismo. Sede...
Água vida. Água viva. Água reconhecimento. Água relação. Água superação.
O andar de Jesus de Jerusalém para Galileia andar que se afasta da fama, do sucesso, andar a procura... Andar que leva ao poço.
O andar cotidiano da samaritana, andar que é tarefa pesada e entediante, tão rotineira que ninguém repara, reconhece, agradece... Andar que leva ao poço.
Poço, fonte que jorra água: água da promessa para Agar, água das núpcias para Rebeca, água do amor para Raquel, água da libertação para Séfora, água da lamentação porque Miriam morreu e os poços secaram. Água da passagem, da ausência, água de onde jorra a vida.

Se conhecesses o dom de Deus
e quem é quem te diz:
‘Dá-me de beber’,
Tu é que lhe pedirias
e ele te daria água viva!”

Ao poço o pedido, o oferecimento. Ao poço o reconhecimento que quebra as barreiras. Ao poço o reatar de um relacionamento antigo. Ao poço o encontro que vence as barreiras étnicas, religiosas, de gênero. Ao poço a recuperação da memória. Cinco maridos, cinco povos é lá que estão as raízes da identidade que aflora.
Ele me disse tudo o que eu sou!” A identidade acorda: quem eu sou? Sou Samaritana! Sou povo, sou gente, sou mulher, sou parceira!
Vinde encontrei um homem! Vinde encontrei o Cristo!”.
Anônima, Samaritana, Parceira do Reino que elimina as barreiras sociais, de raça de gênero. Parceira de Jesus no anuncio do Reino onde Deus é “Pai e quer ser adorado em espírito e verdade”.
Quem olha admira-se: “fala com uma mulher!”. “Meu alimento é fazer a vontade do Pai... alimento que vós não conheceis”.
Quem olha é homem, é cego, a sociedade patriarcal venda seus olhos. Nem a proximidade com o Mestre conseguiu curar a cegueira.
A vontade do Pai é pagar a dívida, é resgatar quem fora escravizada, é restaurar a imagem e semelhança de Deus: mulher-homem.
Saíram do poço, prosseguiram caminhando, na parceria do Reino, rompendo barreiras, vencendo preconceitos, superando obstáculos, apontando, fascinando, conquistando amizades, engrossando as fileiras, anunciando ... provocando...
Saíram andando, a cruz no caminho, a morte na espreita para aniquilar o sonho. Zombando diziam: vencemos! Nada nos derruba! Temos cúmplices: homens e mulheres, ricos e pobres, sábios e estultos, cleros e leigos. Temos cúmplices: a filosofia, a cultura, a religião, a teologia...

Com estas e outras reflexões fomos aos grupos perguntando-nos:

1.   Quais são “as samaritanas”, as águas, os poços alheios a nós com os quais nos deparamos em nossas realidades?
2.  Como esses encontros nos fazem olhar e tomar consciência de nossas próprias águas, nossos próprios poços?
3.   O que precisamos e como podemos fazer para que esses encontros nos ajudem a purificar nossas águas e sirvam para que encontremos as “águas vivas”, as sagradas águas da vida, presentes tanto nas fontes mais profundas de nossas águas/poços como nas fontes mais profundas das águas/poços que são diferentes das nossas?

Tea Frigerio

                                                                         Missionaria de Maria - Xaveriana 

domingo, 15 de junho de 2014

Feminina ou feminista?

Por Tea Frigerio



Esclarecimento: 


  • Não feminina. Pressupõe o eterno feminino. O ideal feminino não existe foi criado pelo patriarcado. Baseia-se na construção social de gênero que elaborou papeis masculinos e femininos, características, atitudes que ao longo dos séculos o mundo patriarcal-machista determinou para a mulher e as introjetou para torna-las absolutas.
  • Sim feminista. Assumir a condição de mulher numa humanidade sexuada. Assumir a realidade da mulher numa estrutura social que determinou para mulher um papel dependente, subordinado e que ocultou na historia seu protagonismo, sua presença, silenciando sua voz.
  • Não uma leitura a partir de... na ótica de... pois isso muitas vezes para no vitimíssimo ou constatando, quando olha a umas mulher como uma heroínas. Leitura assumindo a situação da mulher empobrecida da América Latina.
  • Feminista, porque como mulher ler, interpretar, pronunciar sua palavra especifica sobre Deu*s, sobre a Palavra de Deu*s. Expressar sua palavra libertando-a e libertando-se do que os homens, os teólogos consideram “cientifico”.
  • A palavra ‘feminismo’ pode criar conflito e nem sempre é aceita. Não ter medo e receio disso. O conflito já existe é em ato desde... Vale a pena salientar que não existe um único feminismo, existem variadas formas de feminismo.

1.      Hermenêutica


  • A hermenêutica é a ciência da interpretação de textos; usada também para o estudo e leitura do texto bíblico. Salientamos alguns aspectos para podermos realizar uma hermenêutica com espirito livre.
  •  Ir ao texto com as perguntas que animam a vida da mulher hoje. 
  • Superar os condicionamentos do patriarcalismo, entre eles a ideia que o ‘texto bíblico é sagrado e por isso é intocável’. O texto bíblico não é neutro, o contexto em que foi escrito e depois interpretado foi e é marcado pelo patriarcado.
  • Respeitar a autonomia do texto. O respeito exige que a partir do escrito se possa alcançar a memoria, presença, silenciamento, manipulação e a voz da mulher na historia e no cotidiano subjacente ao texto.
  • Alimentar constantemente a suspeita ideológica.

2.      Suspeita ideológica

Aceitando o pressuposto que o texto bíblico não é neutro, mas tem a marca da sociedade patriarcal em que foi escrito e a seguir interpretado, então a suspeita ideológica é legitima. Popularmente: ir ao texto com uma pulga atrás da orelha que nos incomoda!

  • Interrogar-se o que está por trás de certos textos? (Eclo 26,1-18; Prov 31,10-31; Lc 8,1-3; você sem duvida tem outros).
  •  A ideologização de umas mulheres (Sara; Rebeca; Debora; Ester e não Vasti; Judite...
  • Por que apresenta-las como inimigas, antagônicas? (Sara – Agar; Lia – Raquel; Vasti – Ester; Marta –Maria; e outras...)
  •  Textos que são esquecidos, nunca são lidos (Tamar, 2Sm 13)
  • Textos que silenciam, omitem, ocultam (Ex 15,1-18; Nm 12,1-10; 1Cor 15,1ss parece não conhecer a tradição dos sinóticos sobre as mulheres testemunhas da ressurreição).
  • A pratica na ICAR de ler as mulheres do 1Testamento em função de Maria, apresentada como a mulher do ‘sim’, do silencio.
  • Valorizar algumas mulheres tornando-as ‘heroínas’ e interpretá-las a partir do homem e até masculinizá-las (ex Debora, Jael). 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

CATEGORIA DE GÊNERO



FALAR DE GÊNERO (Por Tea Frigério) 

As Palavras fazem história. A palavra gênero – gender está ligada a historia do movimento feminista.
Séc. XIX – ao redor dos anos 1890 Elisabeth Cady Stanton apresenta ao público a primeira tradução da
Bíblia da Mulher. O seu movimento está ligado ao Movimento sufragista que pedia a liberdade de voto para
as mulheres.
Nos anos de 1960 ao redor das preocupações sociais num quadro teórico nasce o conceito de gênero.
Em 1968 há um marco ligado à contestação ou a chamada revolução cultural: começam os estudos sobre a
mulher. Nos estudos sobre a mulher podemos identificar três níveis:
- categoria descritiva: é importante, mas ainda não suficiente, pois se limita a descrever a realidade da
mulher.
- categoria analítica: vai mais fundo, pois se interroga sobre o porquê dos fatos. As mulheres são uma
categoria social? As mulheres de diferentes categorias sociais têm os mesmos interesses? Como as relações
de gênero podem explicar as relações entre etnias, raças, classes?
- ferramenta política e instrumental de luta: é a meta a ser alcançada.

ROMPER O SILÊNCIO

A categoria de gênero torna visível a que era ocultada, rompe os muros do espaço doméstico. A mulher entra no mundo do trabalho. Podemos analisar dois fatos: 1º na primeira guerra mundial quando os homens foram para guerra, as mulheres passaram a ocupar os espaços do trabalho fora do doméstico para manter a produção industrial e para prover à família. Quando a guerra terminou e os homens voltaram, as mulheres tiveram que voltar no interior da casa. 2º na segunda guerra mundial aconteceu o mesmo, mas as mulheres não voltaram mais para o interior da casa, ficaram no mundo do trabalho.
Ao permanecer no mundo do trabalho obrigou a mulher a assumir os dois espaços: trabalho remunerado e trabalho doméstico. Observa-se também outros elementos, no mundo do trabalho em geral a mulher é dirigida por homens, é secundária, de apoio, e quando ocupa espaços masculinos para ser aceita deve assumir os moldes masculinos e em geral seu salário é inferior ao percebido pelos homens. Há uma denuncia: a ausência da presença da mulher nas artes – letras – política.
Gênero surge para superar o determinismo do sexo. Apresentamos uma definição:


GÊNERO: é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. Forma primeira de significar as relações de poder.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Instrumentais para trabalhar os cinco passos da Leitura Feminista da Bíblia




1.      Categoria de gênero

A sociedade é um tecido de relações: sociais, geracionais, étnicas, classe e gênero. Elas são relações construídas determinando papeis e atitudes. As relações de gênero masculino e feminino são uma conceituação que cada grupo social elabora determinando o papel a ser ocupado pela mulher e pelo homem na sociedade e as atitudes a serem vividas.
Entendemos como consciência de gênero a capacidade de entender o ser mulher - homem dentro dos parâmetros sócio-culturais e as relações pre-costituidas.

2.      Leitura histórica a partir da perspectiva da mulher

A história oficial é his-tory, quer dizer história de homens vencedores, ricos e brancos. As mulheres sobrevivem, melhor são silenciadas e anuladas, quando muito se fala “atrás de um grande homem há uma grande mulher”’. Esta maneira de fazer história é também arraigada na bíblia e presente nas nossas igrejas. Esta tradição marcou a historia da exegese, da teologia, enfim nossa historia de fé é historia patriarcal.
Valem por isso também aqui os três verbos: descontruir – nomear – reconstruir.

3.      Teologia e Espiritualidade da mulher

Nosso corpo de mulher nos faz sentir Deus de outro modo. Todo nosso ser fala de Deus: Ele tem entranhas, tem útero, tem seios... Cuidados maternais, gratuidade, fidelidade... Força criadora e regeneradora...
Nosso corpo de mulher fala da Deusa.
Nosso corpo de mulher nos desafia a nomear a Deusa, a encontrar a Palavra que revela a Deusa e a espiritualidade que nos deve sustentar em dar à luz relações novas entre mulheres, mulheres e homens, humanidade e a criação, mulheres e homens com o transcendente.
É construtivo reler criticamente o mundo simbólico da mulher a partir da realidade cotidiana.

4.      Autoridade Bíblica

O texto é um tecido. Tecido urdido a muitas mãos e com fios coloridos. O texto é um corpo que se encontra com os nossos corpos. Vida que se encontra com as nossas vidas.
Dois corpos que se encontram: o corpo das mulheres e o corpo que é o texto bíblico. Dois corpos que perguntam que querem se tocar, toques e perguntas amorosas, mas também tristes.
É a partir disso que nasce a interrogação sobre autoridade bíblica. Pergunta que se encontra com uma certeza: a vida é sagrada.
A reconstrução das relações no cotidiano, reconstrução dos corpos que se encontram é um dos coloridos da nova espiritualidade: a divindade que se revela como dádiva nas relações dos corpos e dos corpos-textos.
Autoridade bíblica que se revela nas múltiplas relações que tecem a vida, que assume a defesa da vida como sagrada.
Liberdade de encontrar a autoridade bíblica nos nossos corpos e nas nossas relações cotidianas e políticas em defesa da vida. Liberdade de dar respostas parciais, que são luzes ao hoje, mas que amanhã podem ser iluminadas ulteriormente.
Liberdade de recriar, reescrever, festejar, celebrar os textos bíblicos para encontrar o sagrado em nossa vida cotidiana e política

domingo, 25 de maio de 2014

5 PASSOS PARA A LEITURA FEMINISTA DA BÍBLIA


Entendemos por chave de Leitura Feminista da Bíblia o caminho de interpretação que possibilite uma hermenêutica bíblica feminista, que leve a uma leitura libertadora da Bíblia.
A bíblia, para nós mulheres, foi por muito tempo um livro fechado, não somente, ele foi usado para legitimar a exclusão, o domínio, a dependência e até a violência sobre a mulher.
Encontrar a chave para abrir a porta hermeneuticamente fechada, desse livro, é de fundamental importância, pois ao abri-lo poderemos encontrar a Palavra que aponte o caminho para uma leitura e vivencia libertadora da Bíblia.
Chave que consta de cinco passos e três instrumentais.



1º Passo: realidade
A vida, a realidade das mulheres em sua condição de pobre, seu corpo de mulher, suas lutas para se libertar do machismo, sexismo, racismo impostos ou introjetados. Apreender a ler simbolismo que revela a experiência humana o que as palavras não conseguem expressar. Penetrar o simbolismo ligado ao universo da mulher: útero, seios, menstruação, menopausa, casa, amor, alimentação, abnegação.

2º Passo: interagir
Encontrar as mulheres na Bíblia e dialogar com elas. Perceber que apesar da distancia histórica nossa vidas estão interligadas, interagem. O simbolismo ligado ao nosso universo de mulher é presente na bíblia e nos fala do mundo feminino: poço, água, maternidade... Miriam, as parteiras, Rute...

3º Passo: suspeitar
O Patriarcado anulou, escondeu, ignorou, silenciou a presença da mulher na história e na Bíblia. A suspeita é atitude, é a intuição que nos abre as possibilidades de investigar. Este passo nos permite buscar, encontrar a presença da mulher seja na história como na bíblia: presença esquecida, negada, silenciada, explorada, dominada, sempre em função de...
Liberdade de fazer perguntas embora as vezes nos sentimos incomodadas em tocar o texto bíblico.
É importante confrontar as traduções e suspeitar delas. Fazendo perguntas: Onde acontece? Quando acontece? Como acontece? O que acontece? O que se diz da pessoa?
Comparar com outros textos (intratextual). Verificar as palavras chaves e aprofundar compreendendo-as no texto e no ambiente. Mas também confrontar com outros textos fora da Bíblia (extratextual).

4º Passo: desconstruir – nomear
Os três primeiros passos nos preparam a dar o quarto passo. Momento muito importante, pois nos coloca em contato direto com o texto buscando uma exegese fiel ao texto e as mulheres. Este momento exige um estudo serio e fiel, para poder:
Desconstruir: o que o patriarcado nos transmitiu e deixou como herança.
Nomear: a mulher como sujeita da historia e da revelação. Dar o nome é reconhecê-las como protagonistas da historia.

5º Passo: reconstruir


A partir da pesquisa, exegese, interpretação realizada, dos novos paradigmas históricos, da revelação e da teologia tendo a mulher como sujeita. Devolver a presença e a palavra às mulheres. Liberdade de recriar, reescrever, festejar, celebrar os textos bíblicos para encontrar o sagrado em nossa vida cotidiana e política.

sábado, 19 de abril de 2014

RESSURREIÇÃO

Texto de Tea Frigério

Maria de Mágadala e Maria, mãe de Tiago, Salomé de madrugada ao nascer do sol foram...
Assim a comunidade faz memória, memória que chega até nós. Não conseguiram esperar o raiar do dia, precisaram ir. Ao ir vão carregadas de perguntas: a pedra pesada quem a rolará... quem é o jovem... ressuscitou não está aqui... ide... vos precede na Galiléia... saíram, fugiram do tumulo... tremor e estupor...
Seus corpos estão habitados por interrogações, perguntas. A narração as guarda no tempo e o mistério chega até nós.
As mesmas interrogações e perguntas, o estupor e o mistério chegam até nós, nos engravidam e a pergunta nos habita: A Ressurreição aconteceu?
É pergunta que habita muitas pessoas: A Ressurreição aconteceu? Como aconteceu?



A Ressurreição aconteceu!
A Ressurreição devia acontecer!
Foi gestada a longo tempo, desde que Jesus saiu de Nazaré e começou a travar relações. Relações que fascinaram e apontaram a superação de dogmas, regras, preconceitos raciais e étnicas. Relações de uma mesa inclusiva onde podiam sentar mulheres e homens, pessoas com estigmas, diferentes fugindo das regras sociais e patriarcais. Relações que fascinaram e fizeram sair de casa, tornaram corajosas e pessoas saíram revelando-se, ousaram caminhos inusitados.
Relações gestando o novo...
O aroma do perfume anunciou sua chegada. Maria entrou na casa, os cabelos soltos, e o perfume entrou com ela. Aproximou-se de Jesus, rompeu o vaso, derramou o balsamo nos pés de Jesus, os friccionou com seus cabelos. Deixai-a fez por mim, antecipou.
Jesus aprendeu e na ceia lavou os pés, vós também... Vos reconhecerão...
Relações gestando o novo...
Maria de Mágdala, Maria, Marta, Susana, Joana, Salomé e as mulheres que o haviam seguido desde a Galiléia, servindo ao Reino, subiram com Jesus até Jerusalém. Subiram até o Calvário e à sombra amedrontadora da cruz elas ensaiam o ministério da circularidade, com a presença de João o rosto feminino do discipulado.
Relações gestando o novo...
As mulheres que vieram da Galiléia ficaram observando...
E veio José de Arimatéia homem bom e justo, esperava o Reino, pediu o corpo... E a circularidade se refaz na solidariedade, nos gestos que cuidam do corpo amado... Descer da cruz, acolher nos braços, massagear com aromas e perfumes lavando as feridas, limpando a sujeira, devolvendo a dignidade ao corpo violentado, assassinado. Tocar, acarinhar o corpo amado, envolvê-lo em lençóis, depô-lo no sepulcro, na terra, ventre da terra.
Relações gestando o novo...
O ventre da terra acolhe o corpo de Jesus de Nazaré, o corpo do homem cujas relações tinham um “que” nunca visto!
Maria de Mágdala liberta dos sete demônios patriarcais. Marta amada por Jesus, primeira a acreditar que ele era a Vida. Maria a mulher do perfume, aroma que é profecia.
Lázaro, João, José de Arimatéia vislumbraram com ele um jeito novo de viver a masculinidade.
As mulheres desabrochando em nova feminilidade.
Jeitos novos de ser homem, de ser mulher, humanidade nova, novo jeito de tecer relações.
Este homem não podia morrer e ficar na morte, anulado por uma pedra que torna o ventre da terra tumulo?
O que seria da Vida que haviam vislumbrado?
O que seria da utopia de céu novo e terra nova?
O que seria?!
O ventre da terra se abriu para acolher o corpo do homem que por amor à vida proclamou “Eu dou a minha vida, ninguém a tira. Dou-a e retomo-a”. Amor fiel, amor radical. Amor que assume dar sua vida para denunciar os sistemas civis e religiosos que se mantém no poder eliminando a vida, deturpando a vida, matando a vida.
           
Uma pedra sela o ventre da terra, útero que acolhe o corpo do homem que havia ousado ensaiar novas relações. Relações inclusivas. Relações circulares. Relações que colocam em circulo os bens, o poder, os afetos, os corpos. Relações inclusivas ao redor da mesa que rompe os preconceitos, os paradigmas, os dogmas, as falsidades da uma sociedade e religião patriarcal.
O ventre da terra se faz útero, a gravidez que havia começado em encontros amorosos sobre a terra tem que dar à luz.
As mulheres sentam observando, esperando, amando.
As mulheres voltam para casa preparar aromas e perfumes.
As mulheres inquietas de madrugada, vencendo o medo, vão... Vão pedir ao ventre da terra que devolva o corpo amado, o corpo de Jesus de Nazaré, o devolvam Ressuscitado.
Vocês pensam que estou devaneando, que enlouqueci. Sim louca de amor como Maria de Mágdala. Louca de amor em busca do Amado.
Louca de amor como as mulheres que de tão surpreendidas são tomadas de estupor e o estupor as faz tremer. Tremer de medo ou pequena flâmula de esperança.
Louca de amor com elas e que não permitem que a morte vença, a Vida é vitoriosa.
Ressuscitou! Sim fizeram acontecer a Ressurreição! 
Ressuscitou! Estas mulheres e homens fizeram rolar a pedra, gritaram: Jesus de Nazaré vem para fora. Ele ouviu o grito e veio para fora: O Ressuscitado!
A terra pariu, deu à luz: O Ressuscitado!
Elas e Eles foram anunciar: Está vivo nas relações recriadas.
Ressurreição em nossa vida reflete na parábola da borboleta. O casulo é útero, nos fala de escuridão, silencio, dor, morte, espera...
Casulo pede a espera do tempo propicio.
Casulo nos convida a contemplar o lento sair da borboleta, seu abrir de asas, o ensaio e enfim a leveza de seu voo que embeleza a criação.
Borboleta é contemplar a Ressurreição acontecendo no universo, na humanidade, em nossa vida. É contemplar nosso crer, nossa própria vida fazendo acontecer a Ressurreição.



Mistério!
Mistério pede contemplação!
Mistério desvela a Ressurreição!
Mistério convida a fazer acontecer a Ressurreição!
Mistério – Ressurreição: Mulher e Homem relações recriadas!

domingo, 13 de abril de 2014

Domingo de Ramos - 13 de abril de 2014

Por Tea Frigerio

Com o domingo de Ramos iniciamos o caminho da Semana Santa. Ao lermos os relatos da Paixão, Morte e Ressurreição, em cada evangelho percebemos o ritmo litúrgico. A Semana Santa é uma grande liturgia que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa.


Os evangelistas fazem questão de nos dizer “para cumprir as Escrituras”. Longe de pensar em predestinação as primeiras comunidades ao deixar-nos este recado querem testemunhar sua fé em Jesus de Nazaré: sua vida, sua missão que culmina em sua paixão e morte foram à luz e a coragem que sustentou Jesus em sua fidelidade radical ao Pai.
Na leitura do profeta Isaias deste domingo lemos: ”Toda manha ele faz meus ouvidos ficarem atentos para que eu possa ouvir como discípulo. O Senhor abriu meus ouvidos e eu não fiz resistência nem recuei...” Is 50,4-9).
Jesus cada manhã antenava com o Pai, este estar aberto ao seu projeto, este estar aberto aos últimos o levou a viver com fidelidade ao Pai e aos últimos seu amor radical, assim como os profetas viveram, falaram e escreveram.
Então não vamos pensar em predestinação, mas em opção de amor fiel e radical. É assim que as primeiras comunidades, à luz das palavras proféticas compreenderam Jesus de Nazaré. Assim que elas nos convidam a percorrer esta Semana Santa.
A reflexão a seguir nos ajude a penetrar neste mistério de amor e fidelidade.

João 16,12-16 – quando vier o Espírito da Verdade

“A verdade vos libertará, libertará!”
Palavras de um canto de uns anos atrás. Palavras que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à memória ao ler esta memória das Comunidades dos discípulos e das discípulas amadas

Com o canto vieram umas interrogações
· O que Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar
· O que o Espírito da Verdade haveria de revelar, em que caminhos haveria de guiar os discípulos e as discípulas amadas.

Senti-me convidada e retomar o caminho desde o inicio.
De noite Nicodemos perplexo havia perguntado a Jesus: como um homem pode nascer de novo? Da água e do Espírito que como vento sopra onde quer, ouves o ruído não sabes de onde vem nem a aonde vai... Parece que Nicodemos não compreendeu! (João 3,4-11).
Ao poço a Samaritana desafiou Jesus: onde adorar? Esta é hora de adorar em Espírito e Verdade... Ela compreendeu, pois havia experimentado em sua vida a hora (João 4,19-24).
Espírito, Verdade, Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado.
Hora, esta hora em que Jesus está para deixá-los, deixá-las, sua presença que revelava o Deus libertador, o 

Deus presente na Vida, na Historia tornara-se insuportável ao “mundo” aos donos da “religião” que ele havia denunciado e que já o condenaram à morte (João 11,49-52).
Hora, agora em que Jesus, o Mestre está para subir uma morte violenta e eles, elas ainda não penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o Pai.

Hora, que se torna hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da Verdade.  Espírito da Verdade que fala através da metáfora: “Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano” (João 16,20-22).

O caminho do discipulado é o caminho de conhecer à hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da “hora”. A hora pela qual ela se preparou a vida inteira. A hora da espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e alegria. A hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la, segurar e deixar ir. Hora de a Comunidade adulta ser testemunha daquilo que experimentou caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).

O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que conduziu o homem Jesus de Nazaré será presença constante e fiel que fará brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que os levará a compreender e viver em plenitude de sua “hora”.

Hora para com Jesus:
·Antecipar a hora à causa da necessidade (João 2,4)
·Anuncia a nova hora ao se encontrar com o diferente (João 4,21)
·Identifica sua hora com a hora da mulher (João 16,21)
·Vive sua hora como grão de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai jorrar sangue e água. A hora do romper das águas para dar à luz o novo homem e a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade.
A hora de Jesus se torna a hora da comunidade “dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,27.30).

A hora da comunidade onde a mulher e homem vivem o discipulado de iguais na diakonia:
·No serviço da hora que transforma a água em vinho tornando a festa mais festa.
·No serviço dos sinais que restauram a vida.
·No serviço da universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva.
·No serviço da intrepidez, da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo.
·No serviço do bálsamo derramado, boa notícia de mulher até hoje.
·No serviço da solidariedade aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe.
·No serviço que busca, e no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.

O Espírito da Verdade manifestará a sua glória que é a gloria da hora. A hora do amor ágape que recorda – acorda – testemunha o seu mistério que é seu ministério:

Ministério da antecipação
Ministério da parceria
Ministério da dignidade
Ministério da diakonia
Ministério da profecia
Ministério do anuncio
Ministério da vida.

                                                                                              Tea Frigerio

            

quinta-feira, 10 de abril de 2014

MULHERES DA CASA TRAPICHE CELEBRAM A PÁSCOA (2014)

Praticando a terapia do cuidado, refletindo a poesia de Cora Coralina "MULHERES DA VIDA", celebrando a Páscoa deixando para trás nossos medos e fragilidades e partilhando o pão e o vinho!

Texto e Fotográfias de Dilma Leão



Poesia de Cora Coralina
Mulher da Vida


Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos. De todos os povos. De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos, apelidos e apodos:
Mulher da zona, Mulher da rua, Mulher perdida, Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas. Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis. Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas. Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste. Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos, pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal gerada nos viveiros da miséria,
da pobreza e do abandono, enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa mulher corria perseguida pelos homens que a tinham maculado.
Aflita, ouvindo o tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.
As pedras caíram e os cobradores deram s costas.
O Justo falou então a palavra de equidade:
Ninguém te condenou, mulher... nem eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada. Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém as urgências brutais do homem
para que na sociedade possam coexistir a inocência, a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis e sem proteção legal, ela atravessa a vida,
ultrajada e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa nem lhe reconhece direitos nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão, a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos. No dia da Grande Justiça do Grande Juiz.
Serás remida e lavada de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça a vestirá de branco em novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida humilhada e sacrificada para que a Família Humana possa subsistir sempre, estrutura sólida e indestrutível da sociedade,
de todos os povos, de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.
Declarou-lhe Jesus:
“Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus”. 

(Evangelho de São Mateus 21,31)



quinta-feira, 3 de abril de 2014

Coordenadores do CEBI Pará se encontram para formação Bíblica

Texto e Imagens de Angelo Paganelli

Fui convidado para participar do Encontro de formação bíblica para os Coordenadores do CEBI-PA, fiquei impaciente até o começo da reunião (29/03). Aos poucos, os convidados foram chegando e ocupando as cadeiras dispostas em círculo ao redor da ornamentação simbólica central, no chão da sala 02 do Centro Social de Nazaré, com destaque pela Bíblia aberta; duas velas da cor e forma de pirâmide; e duas camisas com logotipo e mensagem da entidade: “Discípulos e Discípulas de Jesus no caminho da não violência”.

Curioso e meio emocionado, fiquei o tempo todo gravando na mente e no coração os rostos do/as convidado/as, que, ao chegar, espontaneamente familiarizavam e matavam a saudade do reencontro. 
Com um leve atraso, iniciamos as atividades com um canto sobre a vivência comunitária da Palavra, para logo fixar nossa atenção nos slides da mensagem de Rubem Alves sobre a capacidade de aprender, como as crianças; a olhar e a desenvolver sensibilidades no processo de encontro, conhecimento e aprendizagem. 
A Equipe de Belém, coordenadora do encontro, promoveu o momento de reflexão coletiva em GTs sobre Ex 3,1-14 convidando a identificar a relação do tema ‘Educar e Olhar’ presente nos textos bíblico no dos slides.
A partilha dos trabalhos destacou o ‘olhar apurado’ de Moisés que conhece, escuta e assume a missão para a qual JHWH o chama; e o ‘olhar apurado’ de JHWH sobre:
a) Moisés, do qual desperta a atenção com a sarça ardendo sem se consumir e a quem escolhe como seu enviado para salvar o povo da opressão;
b) o Povo de quem enxerga e questiona a situação de escravidão; do qual ouve os gritos de dor; em favor do qual decide intervir per intermédio de Moisés, pelo qual se confronta e desafia o faraó opressor, em favor do povo, a quem promete terra de fartura, rica de leite e mel.
Irmã Tea, Assessora do CEBI-PA, ampliou a reflexão a partir das contribuições dos GTs: deu realce à ‘dança de olhares’ de JHWH e Moisés; à experiência da realidade do ‘sagrado’ vivenciada por Moisés, que ao ‘VER’ é provocado a se aproximar e FAZER A EXPERIÊNCIA de JHWH mediante um encontro pessoal, que se abre à missão em favor do Povo, de acordo com a promessa feita aos Patriarcas de um ‘Deus’ pessoal e presente na história do Povo.


A II parte do Encontro de Formação foi dedicada à identificação e socialização, nos GTs, das atividades desenvolvidas nos respectivos campos de atuação; à identificação das principais dificuldades encontradas; à formulação de propostas de solução e à proposta de uma agenda mínima de encontros para 2014.