Por Tea Frigerio
Com o domingo de Ramos iniciamos o caminho da
Semana Santa. Ao lermos os relatos da Paixão, Morte e Ressurreição, em cada
evangelho percebemos o ritmo litúrgico. A Semana Santa é uma grande liturgia
que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa.
Os evangelistas fazem questão de nos dizer “para cumprir as Escrituras”. Longe de pensar em predestinação as primeiras comunidades ao deixar-nos este recado querem testemunhar sua fé em Jesus de Nazaré: sua vida, sua missão que culmina em sua paixão e morte foram à luz e a coragem que sustentou Jesus em sua fidelidade radical ao Pai.
Na leitura do profeta Isaias deste domingo
lemos: ”Toda manha ele faz meus ouvidos ficarem atentos para que eu possa ouvir
como discípulo. O Senhor abriu meus ouvidos e eu não fiz resistência nem
recuei...” Is 50,4-9).
Jesus cada manhã antenava com o Pai, este estar
aberto ao seu projeto, este estar aberto aos últimos o levou a viver com
fidelidade ao Pai e aos últimos seu amor radical, assim como os profetas
viveram, falaram e escreveram.
Então não vamos pensar em predestinação, mas em
opção de amor fiel e radical. É assim que as primeiras comunidades, à luz das
palavras proféticas compreenderam Jesus de Nazaré. Assim que elas nos convidam
a percorrer esta Semana Santa.
A reflexão a seguir nos ajude a penetrar neste
mistério de amor e fidelidade.
João
16,12-16 – quando vier o Espírito da Verdade
“A
verdade vos libertará, libertará!”
Palavras de um canto de uns anos atrás. Palavras
que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à memória ao ler esta memória
das Comunidades dos discípulos e das discípulas amadas
Com o canto vieram umas interrogações
· O que
Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar
· O que o
Espírito da Verdade haveria de revelar, em que caminhos haveria de guiar os
discípulos e as discípulas amadas.
Senti-me convidada
e retomar o caminho desde o inicio.
De noite Nicodemos perplexo
havia perguntado a Jesus: como um homem
pode nascer de novo? Da água e do Espírito que como vento sopra onde quer,
ouves o ruído não sabes de onde vem nem a aonde vai... Parece que Nicodemos
não compreendeu! (João 3,4-11).
Ao poço a Samaritana
desafiou Jesus: onde adorar? Esta é hora
de adorar em Espírito e Verdade... Ela compreendeu, pois havia
experimentado em sua vida a hora (João 4,19-24).
Espírito, Verdade,
Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado.
Hora, esta hora em
que Jesus está para deixá-los, deixá-las, sua presença que revelava o Deus
libertador, o
Deus presente na Vida, na Historia tornara-se insuportável ao
“mundo” aos donos da “religião” que ele havia denunciado e que já o condenaram
à morte (João 11,49-52).
Hora, agora em que
Jesus, o Mestre está para subir uma morte violenta e eles, elas ainda não
penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o
Pai.
Hora, que se torna
hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da
Verdade. Espírito da Verdade que fala
através da metáfora: “Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora
chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos,
pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano” (João 16,20-22).
O caminho do discipulado é o caminho de conhecer
à hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da “hora”. A hora pela qual ela se preparou a vida inteira. A hora da
espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e alegria. A
hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la, segurar
e deixar ir. Hora de a Comunidade adulta ser testemunha daquilo que
experimentou caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).
O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que
conduziu o homem Jesus de Nazaré será presença constante e fiel que fará
brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que os levará a compreender e
viver em plenitude de sua “hora”.
Hora para com Jesus:
·Antecipar a hora à causa
da necessidade (João 2,4)
·Anuncia a nova hora ao se
encontrar com o diferente (João 4,21)
·Identifica sua hora com a
hora da mulher (João 16,21)
·Vive sua hora como grão
de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai
jorrar sangue e água. A hora do romper das águas para dar à luz o novo homem e
a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade.
A hora de Jesus se torna a hora da comunidade “dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está
consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,27.30).
A hora da comunidade onde a mulher e homem vivem o discipulado de iguais
na diakonia:
·No serviço da hora que
transforma a água em vinho tornando a festa mais festa.
·No serviço dos sinais que
restauram a vida.
·No serviço da
universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva.
·No serviço da intrepidez,
da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo.
·No serviço do bálsamo
derramado, boa notícia de mulher até hoje.
·No serviço da solidariedade
aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe.
·No serviço que busca, e
no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.
O Espírito
da Verdade manifestará a sua glória que é a gloria da hora. A hora do amor
ágape que recorda – acorda – testemunha o seu mistério que é seu ministério:
Ministério da antecipação
Ministério da parceria
Ministério da dignidade
Ministério da diakonia
Ministério da profecia
Ministério do anuncio
Ministério da vida.
Tea
Frigerio
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