domingo, 13 de abril de 2014

Domingo de Ramos - 13 de abril de 2014

Por Tea Frigerio

Com o domingo de Ramos iniciamos o caminho da Semana Santa. Ao lermos os relatos da Paixão, Morte e Ressurreição, em cada evangelho percebemos o ritmo litúrgico. A Semana Santa é uma grande liturgia que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa.


Os evangelistas fazem questão de nos dizer “para cumprir as Escrituras”. Longe de pensar em predestinação as primeiras comunidades ao deixar-nos este recado querem testemunhar sua fé em Jesus de Nazaré: sua vida, sua missão que culmina em sua paixão e morte foram à luz e a coragem que sustentou Jesus em sua fidelidade radical ao Pai.
Na leitura do profeta Isaias deste domingo lemos: ”Toda manha ele faz meus ouvidos ficarem atentos para que eu possa ouvir como discípulo. O Senhor abriu meus ouvidos e eu não fiz resistência nem recuei...” Is 50,4-9).
Jesus cada manhã antenava com o Pai, este estar aberto ao seu projeto, este estar aberto aos últimos o levou a viver com fidelidade ao Pai e aos últimos seu amor radical, assim como os profetas viveram, falaram e escreveram.
Então não vamos pensar em predestinação, mas em opção de amor fiel e radical. É assim que as primeiras comunidades, à luz das palavras proféticas compreenderam Jesus de Nazaré. Assim que elas nos convidam a percorrer esta Semana Santa.
A reflexão a seguir nos ajude a penetrar neste mistério de amor e fidelidade.

João 16,12-16 – quando vier o Espírito da Verdade

“A verdade vos libertará, libertará!”
Palavras de um canto de uns anos atrás. Palavras que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à memória ao ler esta memória das Comunidades dos discípulos e das discípulas amadas

Com o canto vieram umas interrogações
· O que Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar
· O que o Espírito da Verdade haveria de revelar, em que caminhos haveria de guiar os discípulos e as discípulas amadas.

Senti-me convidada e retomar o caminho desde o inicio.
De noite Nicodemos perplexo havia perguntado a Jesus: como um homem pode nascer de novo? Da água e do Espírito que como vento sopra onde quer, ouves o ruído não sabes de onde vem nem a aonde vai... Parece que Nicodemos não compreendeu! (João 3,4-11).
Ao poço a Samaritana desafiou Jesus: onde adorar? Esta é hora de adorar em Espírito e Verdade... Ela compreendeu, pois havia experimentado em sua vida a hora (João 4,19-24).
Espírito, Verdade, Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado.
Hora, esta hora em que Jesus está para deixá-los, deixá-las, sua presença que revelava o Deus libertador, o 

Deus presente na Vida, na Historia tornara-se insuportável ao “mundo” aos donos da “religião” que ele havia denunciado e que já o condenaram à morte (João 11,49-52).
Hora, agora em que Jesus, o Mestre está para subir uma morte violenta e eles, elas ainda não penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o Pai.

Hora, que se torna hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da Verdade.  Espírito da Verdade que fala através da metáfora: “Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano” (João 16,20-22).

O caminho do discipulado é o caminho de conhecer à hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da “hora”. A hora pela qual ela se preparou a vida inteira. A hora da espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e alegria. A hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la, segurar e deixar ir. Hora de a Comunidade adulta ser testemunha daquilo que experimentou caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).

O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que conduziu o homem Jesus de Nazaré será presença constante e fiel que fará brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que os levará a compreender e viver em plenitude de sua “hora”.

Hora para com Jesus:
·Antecipar a hora à causa da necessidade (João 2,4)
·Anuncia a nova hora ao se encontrar com o diferente (João 4,21)
·Identifica sua hora com a hora da mulher (João 16,21)
·Vive sua hora como grão de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai jorrar sangue e água. A hora do romper das águas para dar à luz o novo homem e a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade.
A hora de Jesus se torna a hora da comunidade “dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,27.30).

A hora da comunidade onde a mulher e homem vivem o discipulado de iguais na diakonia:
·No serviço da hora que transforma a água em vinho tornando a festa mais festa.
·No serviço dos sinais que restauram a vida.
·No serviço da universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva.
·No serviço da intrepidez, da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo.
·No serviço do bálsamo derramado, boa notícia de mulher até hoje.
·No serviço da solidariedade aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe.
·No serviço que busca, e no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.

O Espírito da Verdade manifestará a sua glória que é a gloria da hora. A hora do amor ágape que recorda – acorda – testemunha o seu mistério que é seu ministério:

Ministério da antecipação
Ministério da parceria
Ministério da dignidade
Ministério da diakonia
Ministério da profecia
Ministério do anuncio
Ministério da vida.

                                                                                              Tea Frigerio

            

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