quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Liturgias e Oferendas



O Comitê Inter-religioso do Estado do Pará se reuniu em Sessão Solene na Câmera Municipal de Belém para debater sobre o Estado Laico, com o Tema: Tolerância não, Respeito! 
A Coordenadora do CEBI Pará Tea Frigerio falou sobre Liturgia, oferenda e ritos. Segue sua explanação abaixo:
Texto: Tea Frigério (Representando no Comitê a Religião Cristã)
Fotografias: Dilma Leão


Liturgias e Oferendas é o tema de minha comunicação a esta assembleia. Vou uni-las numa única expressão, num só conceito “RITO”, pois minha compreensão é que cada expressão religiosa em suas liturgias vive profundamente a mística que os ritos expressam.
A espiritualidade como busca de significado e sentido da vida que orienta a humanidade e define o ser humano tem mais de 70mil anos. A religião existe escassamente há 4500 anos.
As religiões clássicas: hinduísmo, judaísmo, budismo, cristianismo surgiram nas civilizações clássicas entre 3500 a.C. e 1500 anos d.C.
Nos últimos 20 anos há uma busca intensa de espiritualidade enquanto as religiões clássicas parecem se deteriorar. As religiões com suas formas, jogos e armadilhas às vezes se tornaram um obstáculo à busca de espiritualidade.
Carl Jung afirma que quando os símbolos decaem o inconsciente coletivo como vulcões erupção geram novos arquétipos, pois estes estão inscritos de modo indelével na consciência coletiva. Os valores arquétipos estão ligados ao:
- sagrado
- cosmos
- terra
- outros seres humanos em termos de sexualidade afetiva
- outros seres humanos em termos de companheirismo e cooperação.
A recuperação destes valores acontece, na maioria das vezes, fora das instituições religiosas, no limite da estrutura social. As pessoas encontram criativamente seus caminhos para recuperar o que está em perigo de ser perdido para sempre.
Acredito que as religiões não clássicas são expressão desta busca mística e espiritual, e seus ritos, suas oferendas, seus espaços sagrados, que as vezes nós consideramos não convencional, se insere neste caminho de relação do sagrado com o profano, do humano com o transcendente.
O universo todo se move em ritmos e ciclos: as estações mudam, nascem e morrem as galáxias, o nosso sentido de quem realmente somos evolui. Durante milhões de anos nossos antepassados estavam conscientes da vida e da morte como fluxo de vida continua. Entenderam a importância de marcar os ciclos da renovação (solstício e equinócios, por exemplo). Acreditavam que ao fazer isso, colaborariam com o cosmos a crescer e transformar-se.
Chamamos de ritos as nossas experiências com o sagrado: celebrações que podemos chamar de missa, culto ou liturgia. Os ritos pertencem a cada cultura. São eventos que cream vínculos profundos na comunidade que celebra. Para nós do comitê inter-religioso, o conceito de rito tem uma conotação ampla e responde a experiência de respeito, de ecumenismo e de convivência de pluralismo religioso.
No rito é fundamental é a vivencia de pessoas que buscam celebrar na diversidade suas experiências cotidianas a nível comunitário, publico e politico. Quando nos unimos para participar de um rito, estamos coletivamente revelando algo que para nós é muito importante: necessitamos expressar e celebrar os momentos significativos de nossas vidas, compartilhar estes momentos com outras pessoas.
Uma maneira de entender os ritos, em sua infinita variedade a partir das multiformes expressões e denominações religiosas, pode ser o vinculo entre a FÉ e AÇÂO. Um meio de unificar as crenças e os anseios profundos de uma comunidade através de um procedimento ordenado. Podemos expressar também assim: é  expressão de um grupo, comunidade, sua função é ‘recrear’ a sociedade ou a ordem social reafirmando e consolidando os sentimentos sobre qual se baseia a solidariedade social, e, portanto a ordem social.
Podemos assim apontar alguns elementos fundamentais que estão presente ao celebrar um rito:

·         Sentir-se parte da humanidade, da natureza que ao celebrar, ofertar, de uma forma ou outra se relaciona com a transcendência.
·         Encontrar-se com pessoas que partilham da mesma crença seguindo uma sequencia de ações e gestos que levará experimentar a comunhão em ações co-partecipativas.
·         Expressar de maneira oral, gestual, corporal sentimentos e emoções mobilizadas pelo ritual.
·         Comunicar-nos através de símbolos, oferendas, que dão sentido a ação ritual e que é a reinterpretação de significado e portadores de valores e anseios que renovam as relações com a realidade, o cotidiano, com a natureza com as outras pessoas.
·         Cada expressão religiosa interpreta e vivem estes elementos a partir de seus mitos fundante e por isso têm seus próprios ritos, seus próprios espaços religiosos e litúrgicos.
São estas reflexões que merecem ser aprofundadas e ampliadas, mas são suficiente para poder afirmar que é a partir disso que o Estado laico deve educar a população ao respeito a toda a expressão religiosa, a suas ritos e liturgias, deve garantir os espaços (lugares) onde cada religião possa realizar seus ritos, suas liturgias.


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