Por Tea Frigerio
No Templo, sentado Jesus ensina.
Escribas e fariseus arrastam até Ele uma
mulher, gritam: Em flagrante adultério a
encontramos! Na Lei de Moisés...
Escribas, fariseus, ora eles conhecem a
Lei, ora sabem a Lei de cor e salteado, ora por que perguntar a Jesus?
No Templo, Jesus ensina, ora nem é seu
lugar, ora é um Nazareno, ora é um Galileu, ora nem mestre é... Por que trazer
a ele?
A mulher é adultera não prostituta! Há
diferença? Sim grande diferença!
Prostituta faz do seu corpo uma mercadoria,
o vende por dinheiro. Prostituta trabalha. Prostituta exercita uma profissão.
Profissão que a sociedade exige da mulher, mas que estigmatiza. Prostituição
estigma. Prostituição exclusão, impureza.
Adultera ofereceu seu corpo por amor.
Adultera doou seu corpo no amor. Adultera amou e acreditou no amor.
Adultera onde está quem te jurava amor?
Quem pedia um penhor em nome do amor?
A mulher está sozinha, solitária no meio de
seus acusadores. Quem jurou amor a abandonou. Abandonada, sozinha, desamparada,
julgada, objeto usado e descartado, Ora, objeto usado para por a prova Jesus.
Escribas e fariseus, homens fazedores de
leis, homens manipuladores de leis, homens acostumados a moldar as leis segundo
seus interesses.
O homem Jesus abaixa-se, escreve na poeira.
Abaixa-se se envergonha? Não quer ser homem entre aqueles homens?
Abaixa-se e escreve. O que escreve? O
pecado da mulher? Os pecados dos homens? Escreve as leis dos homens que são
lábeis, como escrita na areia. Mudam segundo e seguindo o vento dos interesses.
Escreve na poeira a memória de uma lei nascida no chão da libertação que os
homens da lei tornaram escravidão. Escreve a história de uma lei que foi defesa
dos fracos e pequenos, que os do poder tornaram fardo pesado para as fracas e
as pequenas.
Escreve
e levanta o olhar. Do chão levanta o olhar, o que vê? Homens, fariseus e
escribas saindo de mansinho. Covarde demais para se reconhecer nas palavras de
Jesus. Covardes demais para pegar uma pedra e lançá-la executando a Lei de
Moisés, a lei deles!
O olhar levanta, encontra olhos da mulher?
Olhos que falam de uma longa história de desamor, de abusos, de sofrimento, de
traição, de humilhação.
A palavra evoca: Mulher quem... Ninguém Senhor!” (Jo 8,10-11).
Mulher... Senhor. Duas palavras, o
reconhecimento, a identidade, a dignidade restaurada, restituída.
Mulher imagem e semelhança de Deus.
Senhor, mas não Kyrios, dono. Senhor, Deus
da vida, Deus na vida.
“Não
te condeno... Não peques mais... Vá...” (Jo 8,11).
Não tem nada para condenar! Talvez sede de
amor, talvez a adequação ao sistema, a passividade, a omissão, o silêncio de
séculos.
Vá testemunha e anuncia o novo jeito de ser
mulher.
Anônima.
Adultera. Objeto.
Usada.
Traída. Abandonada.
Mulher.
Evocação. Memória.
Reconhecimento.
Vocação. Envio.
Anuncio.
Testemunho. Dignidade.
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