sábado, 19 de abril de 2014

RESSURREIÇÃO

Texto de Tea Frigério

Maria de Mágadala e Maria, mãe de Tiago, Salomé de madrugada ao nascer do sol foram...
Assim a comunidade faz memória, memória que chega até nós. Não conseguiram esperar o raiar do dia, precisaram ir. Ao ir vão carregadas de perguntas: a pedra pesada quem a rolará... quem é o jovem... ressuscitou não está aqui... ide... vos precede na Galiléia... saíram, fugiram do tumulo... tremor e estupor...
Seus corpos estão habitados por interrogações, perguntas. A narração as guarda no tempo e o mistério chega até nós.
As mesmas interrogações e perguntas, o estupor e o mistério chegam até nós, nos engravidam e a pergunta nos habita: A Ressurreição aconteceu?
É pergunta que habita muitas pessoas: A Ressurreição aconteceu? Como aconteceu?



A Ressurreição aconteceu!
A Ressurreição devia acontecer!
Foi gestada a longo tempo, desde que Jesus saiu de Nazaré e começou a travar relações. Relações que fascinaram e apontaram a superação de dogmas, regras, preconceitos raciais e étnicas. Relações de uma mesa inclusiva onde podiam sentar mulheres e homens, pessoas com estigmas, diferentes fugindo das regras sociais e patriarcais. Relações que fascinaram e fizeram sair de casa, tornaram corajosas e pessoas saíram revelando-se, ousaram caminhos inusitados.
Relações gestando o novo...
O aroma do perfume anunciou sua chegada. Maria entrou na casa, os cabelos soltos, e o perfume entrou com ela. Aproximou-se de Jesus, rompeu o vaso, derramou o balsamo nos pés de Jesus, os friccionou com seus cabelos. Deixai-a fez por mim, antecipou.
Jesus aprendeu e na ceia lavou os pés, vós também... Vos reconhecerão...
Relações gestando o novo...
Maria de Mágdala, Maria, Marta, Susana, Joana, Salomé e as mulheres que o haviam seguido desde a Galiléia, servindo ao Reino, subiram com Jesus até Jerusalém. Subiram até o Calvário e à sombra amedrontadora da cruz elas ensaiam o ministério da circularidade, com a presença de João o rosto feminino do discipulado.
Relações gestando o novo...
As mulheres que vieram da Galiléia ficaram observando...
E veio José de Arimatéia homem bom e justo, esperava o Reino, pediu o corpo... E a circularidade se refaz na solidariedade, nos gestos que cuidam do corpo amado... Descer da cruz, acolher nos braços, massagear com aromas e perfumes lavando as feridas, limpando a sujeira, devolvendo a dignidade ao corpo violentado, assassinado. Tocar, acarinhar o corpo amado, envolvê-lo em lençóis, depô-lo no sepulcro, na terra, ventre da terra.
Relações gestando o novo...
O ventre da terra acolhe o corpo de Jesus de Nazaré, o corpo do homem cujas relações tinham um “que” nunca visto!
Maria de Mágdala liberta dos sete demônios patriarcais. Marta amada por Jesus, primeira a acreditar que ele era a Vida. Maria a mulher do perfume, aroma que é profecia.
Lázaro, João, José de Arimatéia vislumbraram com ele um jeito novo de viver a masculinidade.
As mulheres desabrochando em nova feminilidade.
Jeitos novos de ser homem, de ser mulher, humanidade nova, novo jeito de tecer relações.
Este homem não podia morrer e ficar na morte, anulado por uma pedra que torna o ventre da terra tumulo?
O que seria da Vida que haviam vislumbrado?
O que seria da utopia de céu novo e terra nova?
O que seria?!
O ventre da terra se abriu para acolher o corpo do homem que por amor à vida proclamou “Eu dou a minha vida, ninguém a tira. Dou-a e retomo-a”. Amor fiel, amor radical. Amor que assume dar sua vida para denunciar os sistemas civis e religiosos que se mantém no poder eliminando a vida, deturpando a vida, matando a vida.
           
Uma pedra sela o ventre da terra, útero que acolhe o corpo do homem que havia ousado ensaiar novas relações. Relações inclusivas. Relações circulares. Relações que colocam em circulo os bens, o poder, os afetos, os corpos. Relações inclusivas ao redor da mesa que rompe os preconceitos, os paradigmas, os dogmas, as falsidades da uma sociedade e religião patriarcal.
O ventre da terra se faz útero, a gravidez que havia começado em encontros amorosos sobre a terra tem que dar à luz.
As mulheres sentam observando, esperando, amando.
As mulheres voltam para casa preparar aromas e perfumes.
As mulheres inquietas de madrugada, vencendo o medo, vão... Vão pedir ao ventre da terra que devolva o corpo amado, o corpo de Jesus de Nazaré, o devolvam Ressuscitado.
Vocês pensam que estou devaneando, que enlouqueci. Sim louca de amor como Maria de Mágdala. Louca de amor em busca do Amado.
Louca de amor como as mulheres que de tão surpreendidas são tomadas de estupor e o estupor as faz tremer. Tremer de medo ou pequena flâmula de esperança.
Louca de amor com elas e que não permitem que a morte vença, a Vida é vitoriosa.
Ressuscitou! Sim fizeram acontecer a Ressurreição! 
Ressuscitou! Estas mulheres e homens fizeram rolar a pedra, gritaram: Jesus de Nazaré vem para fora. Ele ouviu o grito e veio para fora: O Ressuscitado!
A terra pariu, deu à luz: O Ressuscitado!
Elas e Eles foram anunciar: Está vivo nas relações recriadas.
Ressurreição em nossa vida reflete na parábola da borboleta. O casulo é útero, nos fala de escuridão, silencio, dor, morte, espera...
Casulo pede a espera do tempo propicio.
Casulo nos convida a contemplar o lento sair da borboleta, seu abrir de asas, o ensaio e enfim a leveza de seu voo que embeleza a criação.
Borboleta é contemplar a Ressurreição acontecendo no universo, na humanidade, em nossa vida. É contemplar nosso crer, nossa própria vida fazendo acontecer a Ressurreição.



Mistério!
Mistério pede contemplação!
Mistério desvela a Ressurreição!
Mistério convida a fazer acontecer a Ressurreição!
Mistério – Ressurreição: Mulher e Homem relações recriadas!

domingo, 13 de abril de 2014

Domingo de Ramos - 13 de abril de 2014

Por Tea Frigerio

Com o domingo de Ramos iniciamos o caminho da Semana Santa. Ao lermos os relatos da Paixão, Morte e Ressurreição, em cada evangelho percebemos o ritmo litúrgico. A Semana Santa é uma grande liturgia que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa.


Os evangelistas fazem questão de nos dizer “para cumprir as Escrituras”. Longe de pensar em predestinação as primeiras comunidades ao deixar-nos este recado querem testemunhar sua fé em Jesus de Nazaré: sua vida, sua missão que culmina em sua paixão e morte foram à luz e a coragem que sustentou Jesus em sua fidelidade radical ao Pai.
Na leitura do profeta Isaias deste domingo lemos: ”Toda manha ele faz meus ouvidos ficarem atentos para que eu possa ouvir como discípulo. O Senhor abriu meus ouvidos e eu não fiz resistência nem recuei...” Is 50,4-9).
Jesus cada manhã antenava com o Pai, este estar aberto ao seu projeto, este estar aberto aos últimos o levou a viver com fidelidade ao Pai e aos últimos seu amor radical, assim como os profetas viveram, falaram e escreveram.
Então não vamos pensar em predestinação, mas em opção de amor fiel e radical. É assim que as primeiras comunidades, à luz das palavras proféticas compreenderam Jesus de Nazaré. Assim que elas nos convidam a percorrer esta Semana Santa.
A reflexão a seguir nos ajude a penetrar neste mistério de amor e fidelidade.

João 16,12-16 – quando vier o Espírito da Verdade

“A verdade vos libertará, libertará!”
Palavras de um canto de uns anos atrás. Palavras que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à memória ao ler esta memória das Comunidades dos discípulos e das discípulas amadas

Com o canto vieram umas interrogações
· O que Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar
· O que o Espírito da Verdade haveria de revelar, em que caminhos haveria de guiar os discípulos e as discípulas amadas.

Senti-me convidada e retomar o caminho desde o inicio.
De noite Nicodemos perplexo havia perguntado a Jesus: como um homem pode nascer de novo? Da água e do Espírito que como vento sopra onde quer, ouves o ruído não sabes de onde vem nem a aonde vai... Parece que Nicodemos não compreendeu! (João 3,4-11).
Ao poço a Samaritana desafiou Jesus: onde adorar? Esta é hora de adorar em Espírito e Verdade... Ela compreendeu, pois havia experimentado em sua vida a hora (João 4,19-24).
Espírito, Verdade, Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado.
Hora, esta hora em que Jesus está para deixá-los, deixá-las, sua presença que revelava o Deus libertador, o 

Deus presente na Vida, na Historia tornara-se insuportável ao “mundo” aos donos da “religião” que ele havia denunciado e que já o condenaram à morte (João 11,49-52).
Hora, agora em que Jesus, o Mestre está para subir uma morte violenta e eles, elas ainda não penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o Pai.

Hora, que se torna hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da Verdade.  Espírito da Verdade que fala através da metáfora: “Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano” (João 16,20-22).

O caminho do discipulado é o caminho de conhecer à hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da “hora”. A hora pela qual ela se preparou a vida inteira. A hora da espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e alegria. A hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la, segurar e deixar ir. Hora de a Comunidade adulta ser testemunha daquilo que experimentou caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).

O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que conduziu o homem Jesus de Nazaré será presença constante e fiel que fará brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que os levará a compreender e viver em plenitude de sua “hora”.

Hora para com Jesus:
·Antecipar a hora à causa da necessidade (João 2,4)
·Anuncia a nova hora ao se encontrar com o diferente (João 4,21)
·Identifica sua hora com a hora da mulher (João 16,21)
·Vive sua hora como grão de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai jorrar sangue e água. A hora do romper das águas para dar à luz o novo homem e a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade.
A hora de Jesus se torna a hora da comunidade “dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,27.30).

A hora da comunidade onde a mulher e homem vivem o discipulado de iguais na diakonia:
·No serviço da hora que transforma a água em vinho tornando a festa mais festa.
·No serviço dos sinais que restauram a vida.
·No serviço da universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva.
·No serviço da intrepidez, da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo.
·No serviço do bálsamo derramado, boa notícia de mulher até hoje.
·No serviço da solidariedade aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe.
·No serviço que busca, e no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.

O Espírito da Verdade manifestará a sua glória que é a gloria da hora. A hora do amor ágape que recorda – acorda – testemunha o seu mistério que é seu ministério:

Ministério da antecipação
Ministério da parceria
Ministério da dignidade
Ministério da diakonia
Ministério da profecia
Ministério do anuncio
Ministério da vida.

                                                                                              Tea Frigerio

            

quinta-feira, 10 de abril de 2014

MULHERES DA CASA TRAPICHE CELEBRAM A PÁSCOA (2014)

Praticando a terapia do cuidado, refletindo a poesia de Cora Coralina "MULHERES DA VIDA", celebrando a Páscoa deixando para trás nossos medos e fragilidades e partilhando o pão e o vinho!

Texto e Fotográfias de Dilma Leão



Poesia de Cora Coralina
Mulher da Vida


Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos. De todos os povos. De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos, apelidos e apodos:
Mulher da zona, Mulher da rua, Mulher perdida, Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas. Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis. Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas. Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste. Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos, pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal gerada nos viveiros da miséria,
da pobreza e do abandono, enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa mulher corria perseguida pelos homens que a tinham maculado.
Aflita, ouvindo o tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.
As pedras caíram e os cobradores deram s costas.
O Justo falou então a palavra de equidade:
Ninguém te condenou, mulher... nem eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada. Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém as urgências brutais do homem
para que na sociedade possam coexistir a inocência, a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis e sem proteção legal, ela atravessa a vida,
ultrajada e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa nem lhe reconhece direitos nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão, a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos. No dia da Grande Justiça do Grande Juiz.
Serás remida e lavada de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça a vestirá de branco em novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida humilhada e sacrificada para que a Família Humana possa subsistir sempre, estrutura sólida e indestrutível da sociedade,
de todos os povos, de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.
Declarou-lhe Jesus:
“Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus”. 

(Evangelho de São Mateus 21,31)



quinta-feira, 3 de abril de 2014

Coordenadores do CEBI Pará se encontram para formação Bíblica

Texto e Imagens de Angelo Paganelli

Fui convidado para participar do Encontro de formação bíblica para os Coordenadores do CEBI-PA, fiquei impaciente até o começo da reunião (29/03). Aos poucos, os convidados foram chegando e ocupando as cadeiras dispostas em círculo ao redor da ornamentação simbólica central, no chão da sala 02 do Centro Social de Nazaré, com destaque pela Bíblia aberta; duas velas da cor e forma de pirâmide; e duas camisas com logotipo e mensagem da entidade: “Discípulos e Discípulas de Jesus no caminho da não violência”.

Curioso e meio emocionado, fiquei o tempo todo gravando na mente e no coração os rostos do/as convidado/as, que, ao chegar, espontaneamente familiarizavam e matavam a saudade do reencontro. 
Com um leve atraso, iniciamos as atividades com um canto sobre a vivência comunitária da Palavra, para logo fixar nossa atenção nos slides da mensagem de Rubem Alves sobre a capacidade de aprender, como as crianças; a olhar e a desenvolver sensibilidades no processo de encontro, conhecimento e aprendizagem. 
A Equipe de Belém, coordenadora do encontro, promoveu o momento de reflexão coletiva em GTs sobre Ex 3,1-14 convidando a identificar a relação do tema ‘Educar e Olhar’ presente nos textos bíblico no dos slides.
A partilha dos trabalhos destacou o ‘olhar apurado’ de Moisés que conhece, escuta e assume a missão para a qual JHWH o chama; e o ‘olhar apurado’ de JHWH sobre:
a) Moisés, do qual desperta a atenção com a sarça ardendo sem se consumir e a quem escolhe como seu enviado para salvar o povo da opressão;
b) o Povo de quem enxerga e questiona a situação de escravidão; do qual ouve os gritos de dor; em favor do qual decide intervir per intermédio de Moisés, pelo qual se confronta e desafia o faraó opressor, em favor do povo, a quem promete terra de fartura, rica de leite e mel.
Irmã Tea, Assessora do CEBI-PA, ampliou a reflexão a partir das contribuições dos GTs: deu realce à ‘dança de olhares’ de JHWH e Moisés; à experiência da realidade do ‘sagrado’ vivenciada por Moisés, que ao ‘VER’ é provocado a se aproximar e FAZER A EXPERIÊNCIA de JHWH mediante um encontro pessoal, que se abre à missão em favor do Povo, de acordo com a promessa feita aos Patriarcas de um ‘Deus’ pessoal e presente na história do Povo.


A II parte do Encontro de Formação foi dedicada à identificação e socialização, nos GTs, das atividades desenvolvidas nos respectivos campos de atuação; à identificação das principais dificuldades encontradas; à formulação de propostas de solução e à proposta de uma agenda mínima de encontros para 2014.