domingo, 15 de junho de 2014

Feminina ou feminista?

Por Tea Frigerio



Esclarecimento: 


  • Não feminina. Pressupõe o eterno feminino. O ideal feminino não existe foi criado pelo patriarcado. Baseia-se na construção social de gênero que elaborou papeis masculinos e femininos, características, atitudes que ao longo dos séculos o mundo patriarcal-machista determinou para a mulher e as introjetou para torna-las absolutas.
  • Sim feminista. Assumir a condição de mulher numa humanidade sexuada. Assumir a realidade da mulher numa estrutura social que determinou para mulher um papel dependente, subordinado e que ocultou na historia seu protagonismo, sua presença, silenciando sua voz.
  • Não uma leitura a partir de... na ótica de... pois isso muitas vezes para no vitimíssimo ou constatando, quando olha a umas mulher como uma heroínas. Leitura assumindo a situação da mulher empobrecida da América Latina.
  • Feminista, porque como mulher ler, interpretar, pronunciar sua palavra especifica sobre Deu*s, sobre a Palavra de Deu*s. Expressar sua palavra libertando-a e libertando-se do que os homens, os teólogos consideram “cientifico”.
  • A palavra ‘feminismo’ pode criar conflito e nem sempre é aceita. Não ter medo e receio disso. O conflito já existe é em ato desde... Vale a pena salientar que não existe um único feminismo, existem variadas formas de feminismo.

1.      Hermenêutica


  • A hermenêutica é a ciência da interpretação de textos; usada também para o estudo e leitura do texto bíblico. Salientamos alguns aspectos para podermos realizar uma hermenêutica com espirito livre.
  •  Ir ao texto com as perguntas que animam a vida da mulher hoje. 
  • Superar os condicionamentos do patriarcalismo, entre eles a ideia que o ‘texto bíblico é sagrado e por isso é intocável’. O texto bíblico não é neutro, o contexto em que foi escrito e depois interpretado foi e é marcado pelo patriarcado.
  • Respeitar a autonomia do texto. O respeito exige que a partir do escrito se possa alcançar a memoria, presença, silenciamento, manipulação e a voz da mulher na historia e no cotidiano subjacente ao texto.
  • Alimentar constantemente a suspeita ideológica.

2.      Suspeita ideológica

Aceitando o pressuposto que o texto bíblico não é neutro, mas tem a marca da sociedade patriarcal em que foi escrito e a seguir interpretado, então a suspeita ideológica é legitima. Popularmente: ir ao texto com uma pulga atrás da orelha que nos incomoda!

  • Interrogar-se o que está por trás de certos textos? (Eclo 26,1-18; Prov 31,10-31; Lc 8,1-3; você sem duvida tem outros).
  •  A ideologização de umas mulheres (Sara; Rebeca; Debora; Ester e não Vasti; Judite...
  • Por que apresenta-las como inimigas, antagônicas? (Sara – Agar; Lia – Raquel; Vasti – Ester; Marta –Maria; e outras...)
  •  Textos que são esquecidos, nunca são lidos (Tamar, 2Sm 13)
  • Textos que silenciam, omitem, ocultam (Ex 15,1-18; Nm 12,1-10; 1Cor 15,1ss parece não conhecer a tradição dos sinóticos sobre as mulheres testemunhas da ressurreição).
  • A pratica na ICAR de ler as mulheres do 1Testamento em função de Maria, apresentada como a mulher do ‘sim’, do silencio.
  • Valorizar algumas mulheres tornando-as ‘heroínas’ e interpretá-las a partir do homem e até masculinizá-las (ex Debora, Jael). 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

CATEGORIA DE GÊNERO



FALAR DE GÊNERO (Por Tea Frigério) 

As Palavras fazem história. A palavra gênero – gender está ligada a historia do movimento feminista.
Séc. XIX – ao redor dos anos 1890 Elisabeth Cady Stanton apresenta ao público a primeira tradução da
Bíblia da Mulher. O seu movimento está ligado ao Movimento sufragista que pedia a liberdade de voto para
as mulheres.
Nos anos de 1960 ao redor das preocupações sociais num quadro teórico nasce o conceito de gênero.
Em 1968 há um marco ligado à contestação ou a chamada revolução cultural: começam os estudos sobre a
mulher. Nos estudos sobre a mulher podemos identificar três níveis:
- categoria descritiva: é importante, mas ainda não suficiente, pois se limita a descrever a realidade da
mulher.
- categoria analítica: vai mais fundo, pois se interroga sobre o porquê dos fatos. As mulheres são uma
categoria social? As mulheres de diferentes categorias sociais têm os mesmos interesses? Como as relações
de gênero podem explicar as relações entre etnias, raças, classes?
- ferramenta política e instrumental de luta: é a meta a ser alcançada.

ROMPER O SILÊNCIO

A categoria de gênero torna visível a que era ocultada, rompe os muros do espaço doméstico. A mulher entra no mundo do trabalho. Podemos analisar dois fatos: 1º na primeira guerra mundial quando os homens foram para guerra, as mulheres passaram a ocupar os espaços do trabalho fora do doméstico para manter a produção industrial e para prover à família. Quando a guerra terminou e os homens voltaram, as mulheres tiveram que voltar no interior da casa. 2º na segunda guerra mundial aconteceu o mesmo, mas as mulheres não voltaram mais para o interior da casa, ficaram no mundo do trabalho.
Ao permanecer no mundo do trabalho obrigou a mulher a assumir os dois espaços: trabalho remunerado e trabalho doméstico. Observa-se também outros elementos, no mundo do trabalho em geral a mulher é dirigida por homens, é secundária, de apoio, e quando ocupa espaços masculinos para ser aceita deve assumir os moldes masculinos e em geral seu salário é inferior ao percebido pelos homens. Há uma denuncia: a ausência da presença da mulher nas artes – letras – política.
Gênero surge para superar o determinismo do sexo. Apresentamos uma definição:


GÊNERO: é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. Forma primeira de significar as relações de poder.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Instrumentais para trabalhar os cinco passos da Leitura Feminista da Bíblia




1.      Categoria de gênero

A sociedade é um tecido de relações: sociais, geracionais, étnicas, classe e gênero. Elas são relações construídas determinando papeis e atitudes. As relações de gênero masculino e feminino são uma conceituação que cada grupo social elabora determinando o papel a ser ocupado pela mulher e pelo homem na sociedade e as atitudes a serem vividas.
Entendemos como consciência de gênero a capacidade de entender o ser mulher - homem dentro dos parâmetros sócio-culturais e as relações pre-costituidas.

2.      Leitura histórica a partir da perspectiva da mulher

A história oficial é his-tory, quer dizer história de homens vencedores, ricos e brancos. As mulheres sobrevivem, melhor são silenciadas e anuladas, quando muito se fala “atrás de um grande homem há uma grande mulher”’. Esta maneira de fazer história é também arraigada na bíblia e presente nas nossas igrejas. Esta tradição marcou a historia da exegese, da teologia, enfim nossa historia de fé é historia patriarcal.
Valem por isso também aqui os três verbos: descontruir – nomear – reconstruir.

3.      Teologia e Espiritualidade da mulher

Nosso corpo de mulher nos faz sentir Deus de outro modo. Todo nosso ser fala de Deus: Ele tem entranhas, tem útero, tem seios... Cuidados maternais, gratuidade, fidelidade... Força criadora e regeneradora...
Nosso corpo de mulher fala da Deusa.
Nosso corpo de mulher nos desafia a nomear a Deusa, a encontrar a Palavra que revela a Deusa e a espiritualidade que nos deve sustentar em dar à luz relações novas entre mulheres, mulheres e homens, humanidade e a criação, mulheres e homens com o transcendente.
É construtivo reler criticamente o mundo simbólico da mulher a partir da realidade cotidiana.

4.      Autoridade Bíblica

O texto é um tecido. Tecido urdido a muitas mãos e com fios coloridos. O texto é um corpo que se encontra com os nossos corpos. Vida que se encontra com as nossas vidas.
Dois corpos que se encontram: o corpo das mulheres e o corpo que é o texto bíblico. Dois corpos que perguntam que querem se tocar, toques e perguntas amorosas, mas também tristes.
É a partir disso que nasce a interrogação sobre autoridade bíblica. Pergunta que se encontra com uma certeza: a vida é sagrada.
A reconstrução das relações no cotidiano, reconstrução dos corpos que se encontram é um dos coloridos da nova espiritualidade: a divindade que se revela como dádiva nas relações dos corpos e dos corpos-textos.
Autoridade bíblica que se revela nas múltiplas relações que tecem a vida, que assume a defesa da vida como sagrada.
Liberdade de encontrar a autoridade bíblica nos nossos corpos e nas nossas relações cotidianas e políticas em defesa da vida. Liberdade de dar respostas parciais, que são luzes ao hoje, mas que amanhã podem ser iluminadas ulteriormente.
Liberdade de recriar, reescrever, festejar, celebrar os textos bíblicos para encontrar o sagrado em nossa vida cotidiana e política